O Brasil e o novo presidente dos Estados Unidos*

A teóloga norte-americana Joan Chistitter sustenta que, no atual contexto da política mundial, além dos cidadãos dos Estados Unidos e até mais do que eles deveriam ser os povos latino-americanos que deveriam eleger o presidente norte-americano, já que, em geral, a política externa deste governo incide diretamente sobre a vida e o futuro dos nossos povos.
Na contramão desta tese, a maioria dos latino-americanos conscientes não quer votar em presidente dos Estados Unidos. Isso seria de alguma forma legitimar a ocupação e o colonialismo. Optamos todos por uma América Latina livre e toda integrada, na qual o governo dos Estados Unidos não possa intervir nem militar, nem economicamente. É preciso acabar com a tradição dos cowboys armados que, depois de matar os índios do seu país, invadem nossos países, estimulam golpes militares, derrubam governos democráticos e quando podem assassinam a líderes populares. Em um século, a América Latina sofreu 204 invasões dos marines norte-americanos, teve vários de seus líderes políticos e presidentes assassinados por ordem da CIA e até hoje, por cada dólar que recebe dos norte-americanos, tem de devolver 16 ou 18 vezes mais.
Atualmente, vários governos populares do continente têm dado sinais de uma nova independência com relação aos Estados Unidos e esta nova eleição em nada mudará este quadro.
Barack Obama não parece ter nenhuma proposta nova ou revolucionária com relação à América Latina, mas qualquer postura mais inteligente do que a de Bush será menos desastrosa e já é positiva. Bush foi uma tragédia tão grande para os próprios Estados Unidos que qualquer alternativa será melhor. Nenhum presidente antes tinha decidido que os gastos com defesa e segurança chegassem a 20% do PIB, enquanto só 3% fossem investidos em educação. Nenhum declarava considerar normal que o país com pouco mais de 6% da população mundial gaste mais de 25% da energia posta à disposição de toda a humanidade. Nenhum presidente anterior se cercou de um grupo de facínoras, ligados às indústrias de armas que consideram normal invadir um país e metralhar sua população civil só para dar uma lição em algum esquerdista que possa ali ter se escondido.
O novo presidente dos EUA herda um país em recessão econômica, em depressão social e em grave crise ética. "Os Estados Unidos têm uma população de 300 milhões de pessoas, das quais 37 milhões, ou seja, 12, 6 % vivem na faixa de extrema pobreza. Um em cada quatro negros, 21% dos hispanos que vivem nos Estados Unidos e 8, 3% dos brancos nascidos ali vivem literalmente na miséria. O economista norte-americano James Petras pensa que a taxa de pobreza e desigualdade social nos Estados Unidos ainda seja pior e mais grave" (Cf. Últimas Noticias, El Mundo, 02/11/ 2008, p. 70).
O governo brasileiro manterá relações diplomáticas amistosas e pacíficas com todos os países e, portanto, também com os Estados Unidos. Mas, diplomatas e estudiosos do processo político sabem que o futuro do Brasil depende mais da nossa capacidade de integração no continente e de nossa participação no processo revolucionário latino-americano do que de relações diplomáticas com o governo dos Estados Unidos.
Para muitos latino-americanos, este caminho novo não é apenas uma opção estratégica, ditada pela realidade, mas expressa uma convicção espiritual. Qualquer que seja a tradição religiosa, ou mesmo além de qualquer pertença religiosa, a espiritualidade leva as pessoas a aprofundar uma visão mais crítica e transformadora da realidade e a assumir como critério de fé a solidariedade amorosa. Nas Igrejas cristãs, para muita gente, esta é a expressão que o seguimento de Jesus assume concretamente.
Fonte: Marcelo Barros * - Adital - http://www.adital.org.br/
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