Brasil - Os Guarani nos 60 anos de Direitos Humanos*
Andando pelas aldeias dessa região de fronteira a gente muito lembra de como os Direitos Humanos são violados, nesses confinamentos indígenas, moídos como a cana, virando bagaço, no avanço capitalista avassalador. Muita dor, mas também muita revolta e esperança.
Sugestivo o número. Nada melhor que uma retrospectiva. Corajosa, talvez, ousada. Quem sabe tenhamos que ultrapassar montanhas de cadáveres. Mas queremos falar de Direitos Humanos. Não podemos deixar de falar nos direitos Guarani. Apenas como exemplo, pois alguns dos povos aqui viventes forram varridos, até da memória. No final de um encontro de diálogo com agricultores e fazendeiros, o representante da FAMASUL (Federação da Agricultura do Mato Grosso do Sul), na saída, me encarou e reforçou sua tese: "não olhe tanto no retrovisor!". Entendi o recado. Eles têm medo do passado. Essa memória perigosa tem que ser enterrada. O que vale é o presente futuro. Ninguém pode ficar no escuro. O progresso é andar pra frente. Só vale gente que tem. Nesse caso os índios valem quase nada. São ainda tolerados. "Ruim com eles, melhor sem eles", reza o ditado disfarçado em silêncio.
Final de dia. Resolvemos fazer uma visita ao nhanderu Nelson. A prosa não foi outra. Girou em torno de "Terra Vermelha". Estamos na casa de protagonistas do filme. Falam, riem, fazem chacotas. "Corta, corta...", lembram com emoção. Falam da viagem para a Itália, para o lançamento do filme no Festival de Veneza. Aprenderam algumas palavras em italiano. Chamou atenção a curiosidade em torno da realidade e vida dos indígenas. Falavam muito. Foram muito procurados para conversar. Se emocionaram e choraram. Viveram uma experiência marcante. Será lembrada por muito tempo. Enquanto isso "Terra Vermelha" vai tocando corações e curiosos pelo Brasil e mundo afora.
Sugestivo o número. Nada melhor que uma retrospectiva. Corajosa, talvez, ousada. Quem sabe tenhamos que ultrapassar montanhas de cadáveres. Mas queremos falar de Direitos Humanos. Não podemos deixar de falar nos direitos Guarani. Apenas como exemplo, pois alguns dos povos aqui viventes forram varridos, até da memória. No final de um encontro de diálogo com agricultores e fazendeiros, o representante da FAMASUL (Federação da Agricultura do Mato Grosso do Sul), na saída, me encarou e reforçou sua tese: "não olhe tanto no retrovisor!". Entendi o recado. Eles têm medo do passado. Essa memória perigosa tem que ser enterrada. O que vale é o presente futuro. Ninguém pode ficar no escuro. O progresso é andar pra frente. Só vale gente que tem. Nesse caso os índios valem quase nada. São ainda tolerados. "Ruim com eles, melhor sem eles", reza o ditado disfarçado em silêncio.
Dia de decisão
Final de campeonato. Está na mão do Supremo a decisão. Os povos indígenas do Brasil estão de plantão. Os Nhanderu (líderes espirituais) estão de plantão em Tey Kue (Caarapó) num grande encontro intercultural dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul. Guarani Kaiowá em peso. Vão pedir a iluminação e a decisão certa dos juizes. Raposa Serra do Sol é dos índios. E assim será. Nhanderu Marangatu é dos Kiaowá Gurani. Assim voltará a ser. Vai ser dia de muita reza. Dia de juntar o pulsar nativo dos corações para a garantia do direito maior - a terra, que é mãe, que é vida. É o sentimento, a grande corrente nesse dia decisivo, em que os Direitos Humanos são semeados de maneira especial, nos seus 60 anos de respeito e desrespeito, de violação e violência, de proclamação e ocultação.
Na "segunda rodada de diálogo", entre poder publico, entidades da sociedade civil, órgãos do governo e representantes dos fazendeiros, logo foi constatado que de nada valeria ficar repetindo as mesmas falas, desabafos, ressentimentos... Era preciso avançar. Diante das colocações do Procurador do Ministério Público Federal, Marco Antonio, sobre as possibilidades de se viabilizar alguma forma de indenização através do Governo do Estado, com já tem acontecido em outros lugares, se produziu um consenso. Vamos nos reunir com os políticos que já fizeram propostas neste sentido e vamos ver se encontraremos saídas para a dramática situação da falta de terra dos Kaiowá Guarani. É claro que muitos e enormes desafios continuam. Quiçá se estará dando um passo na direção da luz no fim do túnel.
Na aldeia da terra vermelha
Final de dia. Resolvemos fazer uma visita ao nhanderu Nelson. A prosa não foi outra. Girou em torno de "Terra Vermelha". Estamos na casa de protagonistas do filme. Falam, riem, fazem chacotas. "Corta, corta...", lembram com emoção. Falam da viagem para a Itália, para o lançamento do filme no Festival de Veneza. Aprenderam algumas palavras em italiano. Chamou atenção a curiosidade em torno da realidade e vida dos indígenas. Falavam muito. Foram muito procurados para conversar. Se emocionaram e choraram. Viveram uma experiência marcante. Será lembrada por muito tempo. Enquanto isso "Terra Vermelha" vai tocando corações e curiosos pelo Brasil e mundo afora.
Enquanto isso, seu Nelson vai lembrando dos trinta anos em que foi expulso de seu tekoha no Santa Maria. São três décadas de sofrimento sem terra e muita violência. São trinta anos revirando poucos palmos de terra vermelha disponível para alimentar a família. "Mas vou voltar pro meu tekoha. Se Deus quiser", arremata decidido o velho nhanderu.
Hoje vamos passar o dia nos espaços de luta e violência, de Kurusu Ambá e Nhanderu Marangatu. Estaremos partilhando dessa forma da festa dos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos e da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a Terra Indígena Raposa Serra do Sol e demais que estão nesta situação.
Na memória de Marçal, Dorvalino, D. Quitito, de Julite e Ortiz e de todos os Guarani que tombaram na luta por seus direitos e sua terra.
Fonte: Egon Dionísio Heck * - Adital - www.adital.org.br
Dourados, Mato Grosso do Sul, 10 de dezembro de 2008.
* Assessor do Conselho Indigenis (CIMI) Mato Grosso do Sul
Dourados, Mato Grosso do Sul, 10 de dezembro de 2008.
* Assessor do Conselho Indigenis (CIMI) Mato Grosso do Sul
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