China: Bases para a Nova Superpotência*


"É preciso ter confiança nas massas; é preciso ter confiança no Partido: estes são os dois princípios fundamentais. Se tivermos a menor dúvida a esse respeito, seremos incapazes de realizar o que quer que seja". Mao Tsé-tung, em 1955


A amplitude das transformações nas gestões de empresas industriais, e na divisão do trabalho no seio das grandes empresas, só se tornou possível pela derrota da linha política burguesa, que era a de Liu Chao-chi, linha cujos partidários tinham praticamente restabelecido por ocasião das transformações análogas às efetuadas ao longo da Revolução Cultural, e iniciadas quando do Grande Salto para frente, em 1958. Essas transformações correspondem a uma revolução ideológica, assinalando o início de uma transformação de costumes que fortalecem cada vez mais uma nova moral proletária".

Nos partidos comunistas, denomina-se linha política burguesa uma linha que se opõe objetivamente às transformações possíveis que permitiriam reduzir o lugar ocupado pelos elementos capitalistas ou burgueses na base econômica ou na superestrutura. Quando predomina a ação de uma tal linha, presencia-se à consolidação (que poderia ser evitada) das formas capitalistas da divisão do trabalho e da gestão de empresas, assim como de posições da burguesia. Esta última é constituída não apenas pelos antigos capitalistas, proprietários de terras, etc., mas também por quadros, técnicos e administradores, que tiram partido de suas funções para fazer escapar do controle dos trabalhadores o uso dos meios de produção e de investimentos... Charles Bettelheim , diretor da Ecole Pratique des Hautes Études, de Paris, no Le Monde Diplomatique, em 1971

"Não importa a cor do gato, contanto que coma o rato". Deng Xiao-ping, em 1979


História

Encerrou a China o ano, o século e o milênio deixando estabelecidas sólidas bases para reconquistar, no futuro não muito distante, a hegemonia perdida do século XVI. O ciclo histórico da fantástica recuperação da milenar nação asiática começou exatamente na metade do século passado, com a chegada ao poder do líder comunista Mao Tsé-tung, em 1950, que eleiminou os resquícios da retrógrada dinastia imperial da minoria manchu, além de expulsar as forças colonialistas japonesas e o exército contra-revolucionário de Chiang Kai-chek. Quase 30 anos depois, em 1979, o vice-primeiro-ministro Deng Xiao-ping, ex-exilado em Paris, comandava uma nova revolução, esta de origem pacífica, mas que alterou radicalmente não só as estruturas econômicas mas também os próprios costumes da população. Porém, o lado positivo do antigo sistema - quanto a educação, saúde e assistência social - não só foi mantido como até aperfeiçoado.

Para justificar as modificações propostas, particularmente junto aos radicais do Partido e do Exército Vermelho, o genial Deng criou uma série de significativas expressões, como "economia socialista de mercado" e "economia de mercado com características chinesas". Mas a que não só convenceu o povo chinês da necessidade das reformas sob qualquer regime, e ganhou o mundo, foi a célebre "não importa a cor do gato, contanto que coma o rato". Com essa política de persuasão, mas de firme aplicação, Deng (falecido em 1997) deixou implantada uma renovada, eficiente e irreversível estrutura, com reais condições, ainda nesta década, de até superar Os EUA como superpotência econômica, segundo admitiu o próprio Departamento de Comércio norte-americano.

Reforma agrária e segurança alimentar

Mantendo a ininterrupta expansão registrada desde a abertura decretada por Deng, em 2000, a economia chinesa voltou a crescer de forma expressiva, como o Produto Interno Bruto elevando-se 8,2%. Com suporte dos pontos-chave da abertura - investimento estrangeiro e exportação - praticamente todos os setores econômicos, abrangendo agricultura, comércio e indústria, apresentaram resultados satisfatórios, alguns deles marcas mundiais. Ainda segmento fundamental para a economia do país, a agricultura está sendo reestruturada, com a introdução de novas tecnologias e seleção de culturas. Com base na eficiente reforma agrária implantada - contrato de responsabilidade, assegurando a produção e venda livre da colheita - continuou a China na liderança mundial do setor, com safra de cereais em torno de 460 milhões de toneladas (o dobro dos EUA). O verdadeiro milagre é que a China, com apenas 7% da área agriculturável, alimenta 22% da população terrestre. Dentro da nova política, estão sendo substituídas antigas plantações pouco rentáveis de milho e arroz por culturas de maior valor (nutritivo e financeiro) como trigo e colza. No ano passado, apresentaram crescimento médio de 6% as produções de carne, aves, ovos e de frutos do mar (peixes, camarões e mariscos), também lideradas pela China. Com excepcional colheita de 59 milhões de toneladas, tornou-se a China a maior produtora mundial de frutas. A grande novidade, aperfeiçoada pelos cientistas chineses, é o aproveitamento da água do mar para o cultivo de vários cereais, como trigo e arroz, e oleaginosos, como trigo e arooz, e mil hectares de plantações litorâneas nas províncias de Shangdong, Hefei, Guangdong hainan já são irrigados regularmente com a água do mar.

Explorando as vantagens do capitalismo

Impulsionado pela maciça entrada de investimentos externos na economia chinesa - no ano passado somaram cerca de US$ 40 bilhões, chegando a US$ 662 bilhões o total aprovado em duas décadas, atrás apenas dos EUA na esfera mundial - o comércio exterior continuou crescendo expressivamente, alcançando US$ 474,3 bilhões. Computados os resultados de Hong Kong e Macau - províncias devidamente reincorporadas - o comércio externo chinês deve situar-se agora em 4° lugar no ranking internacional, em seguida aos EUA, Alemanha e Japão. Descartando a nefasta desvalorização da moeda, as exportações chinesas atingiram US$ 249,2 bilhões, aumentando 27,8%, o melhor índice internacional.
As empresas com capital externo - atualmente são 349 mil, com destaque para as vinculadas às 400 das 500 maiores multinacionais já instaladas na China - respondem por 47% das exportações.

No Brasil, sem qualquer compromisso no ingresso dos investimentos, a participação estrangeira nas vendas externas não chega a 20%.

Dispondo de mão-de-obra e matérias-primas fartas, boas e baratas, contando com a indispensável ajuda dos investimentos externos, a China explora exemplarmente as vantagens do sistema capitalista. Produzindo em massa, a custos reduzidos, vasta gama de artigos manufaturados, pode suprir (inundar talvez seja o termo) a preços imbatíveis os mercados interno e externo.

Crescem a economia, emprego e riqueza do país

Dessa forma, crescem a economia, o nível de emprego e a riqueza do país, melhorando, conseqüentemente, o padrão de vida do povo. Em decorrência, passaram Os chineses a liderar a produção/exportação mundial de muitos artigos industrializados, tais como bicicletas, brinquedos, roupas, calçados, ventiladores, aparelhos de ar condicionado, de som e de televisão, geladeiras, telefones, e agora, computadores. Para aproveitar as condições favoráveis oferecidas, as principais multinacionais da indústria eletrônica, de informática e telecomunicações programaram elevados investimentos, como a Ericsson (US$ 5,1 bilhões) e Motorola (US$ 3,1 bilhões), além da Microsoft e da IBM, o que tornará a China, a curto prazo, a maior fabricante/exportadora desses produtos.
Avançando com infra-estrutura

Preparando-se para seu próximo ingresso na OMC, e avançar ainda mais no mercado internacional, dispõe a China de dois entre os dez maiores portos do planeta: Xangai, o 3° quanto ao volume de carga (200 milhões de toneladas/ano) e Hong Kong, líder na movimentação de containers (17 milhões de uindades/ano). Valendo-se da condição de principal produtora de aço, a indústria chinesa tornou-se também a maior fabricante de containers (70% do total mundial) e ainda de equipamentos portuários (guindastes, gruas, etc.). Para coroar, contando agora com os bons resultados de Hong Kong, a China passou a ser a nação com maior volume de reservas cambiais, US$ 273 bilhões, ultrapassando o Japão.

Carlos Tavares de Oliveira* é jornalista e assessor de comércio exterior da CNC.
Publicado em O Globo.

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