Colonização não é Reforma Agrária*


Para discutir a questão agrária na Amazônia é preciso primeiro responsabilidade com as populações que existem há longa data na região, aponta Ulisses Manaças, da coordenação nacional do MST no Pará. São as comunidades remanescentes de quilombos, os indígenas, os camponeses e os ribeirinhos os guardiões da floresta, e eles sempre sobreviveram sem o apoio ou incentivo do Estado. “É preciso que se faça um processo de Reforma Agrária que garanta a presença do Estado, que garanta incentivo para as populações trabalharem e preservarem a Amazônia”, diz.

Ele aponta que os assentamentos precisam de infra-estrutura, incentivos para a produção, energia elétrica, estradas. “Os assentamentos são um espaço privilegiado para conseguir restaurar o que o agronegócio destruiu na região, e garantir a produção de alimentos e a defesa da biodiversidade. Nosso modelo de reforma agrária só tem viabilidade na região amazônica quando a agricultura respeitar a diversidade cultural e ambiental desse fantástico ecossistema do nosso país”, completa.

Ulisses aponta que o projeto seguido pelo governo federal nos últimos 30 anos não prioriza a realização da Reforma Agrária, e sim projetos de colonização. A política iniciada na década de 1970, na ditadura militar, e mantida pelos governos FHC e Lula, prioriza a atuação econômica de outros agentes interessados no território, não os agricultores. “Essa é uma política que assenta as pessoas com o intuito claro de desenvolver economicamente de forma predatória, derrubando a floresta e fazendo relações com madeireiros. Isso pra nós não é Reforma Agrária”, denuncia Ulisses.

Esses projetos de colonização na região amazônica não criam as condições para que os assentamentos possam se desenvolver de forma sustentável, o que leva a uma pressão das empresas madeireiras.


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